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Adoções múltiplas e sem limite de idade são ainda pouco procuradas


Os números são inversamente proporcionais. Enquanto 51% das crianças e adolescentes disponíveis para adoção têm irmãos na mesma situação, 65% dos candidatos a pais adotivos não querem mais de um filho. Outro impasse é quanto à idade, já que 78% das famílias querem crianças com até cinco anos, mas 66% dos menores que fazem parte do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) têm entre seis e 16 anos. Foi ciente desses números e com uma grande vontade de ser mãe o mais rápido possível, que a técnica judiciária Silvia Araújo, e o marido dela, o professor Antônio Alves, adotaram, há nove meses, os irmãos Lucas e Larissa (os quatro nomes são fictícios), de 10 e 11 anos. “Não fazia sentido eu ter um bebê. Já ajudei a cuidar de uma sobrinha e uma afilhada quando nasceram e não importava muito a idade. Até porque, meu problema de saúde também me impediu de cuidar de uma criança muito pequena”, disse Silvia. A funcionária pública federal foi diagnosticada, há sete anos, com uma doença crônica, a artrite reumatóide, que a deixou na cadeira de rodas, afastada por dois anos do trabalho. E foi justo o risco de morte iminente que a levou a procurar a adoção, depois de 13 anos de casada. “Tive um aborto no início do meu casamento, tentamos algum tempo e desistimos. Mas ver a morte de tão perto me fez enxergar a vida de outra forma. Descobri um medicamento que me deixou bem e percebi que ainda dava tempo de ser mãe”, afirmou. Silvia conta que não foi e não é fácil a adaptação com as crianças, com um histórico familiar de agressões físicas, abuso sexual e abandono. Os dois irmãos chegaram a ser acolhidas por outra família, mas devolvidas ao abrigo. Mas a satisfação de ver o crescimento dos filhos e ser chamada de mãe, segundo ela, compensa todo o esforço. Tanto que o casal já está em busca de uma nova filha, uma adolescente de 16 anos. “Dá muita satisfação em ver o progresso deles, a alegria deles em conhecer as coisas. O mínimo os deixa tão felizes, porque eles nunca tiveram nada, só sofrimento. São crianças que, daqui a um tempo, iriam sair do abrigo, sem noção nenhuma da vida. São ingênuos, muitos lá não sabem nem ler. Meu filho não sabia ler. Pra onde essas outras crianças vão?”, disse a mãe. Para a gestora do grupo de apoio à adoção de Uberlândia, Pontes de Amor, Sara Vargas, que também tem três filhas adotivas de 15 anos, sendo duas irmãs gêmeas, alguns projetos que dão visibilidade às crianças no acolhimento ajudam a diminuir o tempo de espera dentro dos abrigos. O Pontes de Amor, por exemplo, realiza eventos como forma de que os postulantes a adoção conheçam as crianças assistidas. Foi em um encontro desses, no fim de 2016, que Silvia Faria conheceu os filhos. “Vi o meu filho e tive certeza que já o conhecia antes. Meu marido gostou da menina e só depois ficamos sabendo que eles eram irmãos. A partir daí, corremos atrás para adotá-los”, afirmou. Sara Vargas tem em casa a experiência de uma adoção múltipla. Além do filho biológico Lucas, de 19 anos, é mãe adotiva de Jéssica, hoje com 15 anos e adotada aos 4, e das gêmeas Kelly e Kethleen, também com 15 anos e adotadas aos 5. “É muito bacana. Porque filho é um presente e nós fomos presenteados em dobro quando as gêmeas chegaram. Claro que também dão trabalho em dobro e uma criança maior traz uma mochilinha maior, com suas vivências. Temos que estar mais disponíveis. Mas, por outro lado, elas têm um desejo muito maior que tudo dê certo”, afirmou Sara. CASAL HOMOAFETIVO

Quatro mulheres vivem na mesma casa

Assim como muitos outros casais, em que a mãe abandona o trabalho para cuidar exclusivamente dos filhos, aconteceu com Luciene Simão e Andréa Rocha, juntas há oito anos. Hoje, Luciene fica em casa cuidado das filhas Yasmim, de oito anos, adotada há pouco mais de um ano, e Yane, de seis, adotada aos dois, enquanto a companheira trabalha fora. Segundo Luciene, que tem a experiência de adotar uma criança ainda pequena e agora, uma maior, a diferença na adaptação é proporcional. “É gritante. A Yane veio quase um bebê, nem tinha personalidade formada. Já a Yasmim veio cheia de conflitos. Foi bem mais difícil adequar, principalmente nos primeiros cinco meses. Mas passa e a gente tem que ter maturidade e saber que é um processo. Você tira a criança de uma vida, toma tudo o que ela conhecia, e quer impor outro mundo, outra religião, outra rotina, e ainda quer ser amada logo de cara? Precisa de tempo”, afirmou. Segundo o promotor Epaminondas Costa, a adoção por parte de casais homoafetivos está cada vez maior em Uberlândia atualmente, já que antes esse público tinha receio e acreditava que não seria chamado por causa de preconceito. “Hoje os parceiros homoafetivos têm mais segurança em adotar, por causa de campanhas de esclarecimento. Para ser pai e mãe, independe de orientação”, afirmou o promotor. VARA DA INFÂNCIA

Violência é descoberta muito tarde

Segundo o promotor da Vara da Infância e Juventude, Epaminondas da Costa, a procura por crianças maiores tem crescido gradativamente, mas a preferência é ainda por menores de seis anos. “O problema é que a criança pequena, normalmente, ainda não está na escola e só quando entra é que acontece a denúncia sobre os maus tratos das famílias, ou os educadores percebem os sinais de violência física e sexual. Só aí elas são encaminhadas a um atendimento institucional. E muitas dessas crianças maiores também têm irmãos”, afirmou o promotor. Ainda de acordo com Epaminondas, que há 14 anos trabalha nessa área, grande parte dos candidatos à adoção ainda acreditam que uma criança pequena, principalmente a recém-nascida, irá assimilar melhor os valores da família substituta. “Aí que vem o trabalho dos grupos que trabalham com adoção, para mostrar que isso é um mito. Toda criança recém-nascida vai crescer e pode também apresentar problemas, assim como um filho biológico. O que vai fazer a diferença é o afeto”, afirmou. ESCOLHA

Casal têm 2 filhas com Síndrome Down

Apenas 6% dos postulantes a adoção do Cadastro Nacional de Adoção aceitam crianças com deficiência física e 3% crianças com deficiência metal. Nesse número tão restrito é que estão inseridos o casal de advogados Maria Alice Dias Costa e Osney Rodrigues Rodovalho. Depois de ter a filha biológica, Clara, hoje com 10 anos, adotaram Amanda, de nove, quando ainda era um bebê de dois meses. E enquanto a maioria opta por não adotar crianças com alguma condição específica, eles acabaram ganhando uma nova filha com a mesma condição genética da primogênita, já que as duas irmãs têm Síndrome de Down. “Acabei ficando com dois bebês, que precisavam de cuidados especiais, porque ambas nasceram com cardiopatia. Pouco tempo depois, minha irmã ainda adotou o João Victor, também com Síndrome de Down, e eu ajudei a criar”, disse Maria Alice. Hoje, as meninas estudam em uma escola regular. A Clara ama balé, enquanto a Amanda gosta de natação e andar de bicicleta. As irmãs têm gostos e habilidades distintas, uma é morena, a outra, loira, uma mais calma, a outra mais agitada, assim como difere toda criança típica. Segundo a mãe, ambas têm as dificuldades comuns à condição delas, mas nada que as impeça de levar uma vida normal. “Eu digo que trabalho para dar uma condição boa para minhas filhas. Vivo para elas. E não tem distinção porque uma nasceu de mim e a outra não. Amo a Amanda do mesmo jeito da Clara. Elas são maravilhosas”, afirmou Maria Alice.



http://diariodeuberlandia.com.br/noticia/16172/adocoes-multiplas-e-sem-limite-de-idade-sao-ainda-pouco-procuradas


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